Agentes de IA e o Novo Ecossistema de Conteúdo: Da Indexação à Citação, Reinventando a Performance Digital

Jose Roberto Marchini
Publicado em
23/10/2025

A forma como os usuários descobrem informações online está passando por sua maior e mais rápida transformação desde o surgimento do Google.

Estamos testemunhando a transição de um modelo de busca baseado em uma lista de links para um novo paradigma: um diálogo sintetizado, mediado por Agentes de Inteligência Artificial. Como destacado na palestra "A Nova Arquitetura da Busca" durante o evento Marketing Data Science 2025 da DP6, essa mudança não é uma tendência distante, mas uma realidade presente e dominante, especialmente no Brasil.

O país já é o terceiro maior usuário de ChatGPT do mundo, e pesquisas indicam que quase 50% dos internautas diários já utilizam IAs de conversação em suas rotinas.

Essa nova arquitetura de descoberta representa uma desintermediação fundamental do site da marca na fase inicial da jornada do consumidor.

A IA agora atua como um "concierge" de informações, que não apresenta mais um menu de opções (os tradicionais links azuis), mas sim uma resposta curada e definitiva. O comportamento do usuário está migrando de "pesquisar e clicar" para "perguntar e receber uma resposta sintetizada".

Grandes Modelos de Linguagem (LLMs) e recursos como os AI Overviews do Google são projetados para entregar essa resposta final diretamente na página de resultados, muitas vezes eliminando a necessidade de visitar qualquer fonte externa.

A implicação para as marcas é profunda: a primeira interação de um potencial cliente com a informação da sua empresa não ocorre mais no seu site, mas através da interpretação e síntese dessa informação pela IA. A "primeira impressão" da sua marca é, agora, controlada por um algoritmo.

Diante desse cenário, a tese central para a sobrevivência e o sucesso das equipes de conteúdo é clara: o objetivo não é mais apenas "ranquear" em uma lista, mas se tornar a fonte de autoridade que "informa" e "molda" a resposta da IA. A métrica de sucesso evoluiu de gerar um clique para influenciar a síntese.

O Impacto Quantificável: A Erosão do Tráfego e o Paradoxo da Visibilidade Sem Clique

A transformação no comportamento do consumidor não é teórica, seus efeitos já são mensuráveis em métricas de negócio que sustentam as estratégias digitais.

Estamos entrando na era do "tráfego zero-clique", um cenário onde a visibilidade nos resultados de busca não se traduz mais, de forma linear, em sessões no site. Para as equipes de conteúdo e performance, ignorar esses dados é ignorar uma gigantesca mudança no mercado.

A análise de dados de mercado revela um quadro preocupante para as métricas tradicionais:

Queda na Taxa de Cliques (CTR)

Estudos de consultorias como Ahrefs e Amsive demonstram que a presença de um AI Overview do Google pode reduzir a taxa de cliques da primeira posição orgânica em uma faixa de 15% a 37%.

Em buscas com intenção puramente informacional, como as de "o que é" ou "como fazer", essa queda pode ser ainda mais drástica, chegando a 68%.

Redução do Tráfego Orgânico

A consultoria Gartner projeta uma queda de até 25% no tráfego orgânico proveniente de buscadores até 2028, como consequência direta da adoção de IAs generativas.

Essa projeção já se materializa em casos reais, com empresas relatando perdas de até 60% do tráfego em páginas de conteúdo informacional que antes eram pilares de sua estratégia de aquisição.

O Fenômeno "Zero-Clique”

A consolidação desse novo comportamento é talvez o dado mais alarmante. Um estudo do Pew Research Center revelou que usuários que se deparam com um resumo de IA têm quase metade da probabilidade de clicar em um link tradicional (8% de CTR em páginas com AI Overview contra 15% em páginas sem). Apenas 1% dos usuários clica nos links de fonte dentro do resumo gerado pela IA.

Mais revelador ainda é que 26% das jornadas de busca terminam na própria página de resultados quando uma resposta de IA é apresentada, em comparação com 16% quando não é. A resposta é consumida, e o usuário vai embora.

Este cenário de canibalização do tráfego orgânico ecoa uma preocupação levantada por Leonardo Naressi, CEO da DP6, no MDS 2025: o risco de "pagar mais pelo mesmo" ou de investir em canais que simplesmente roubam resultados que já seriam obtidos por outras vias. Agora, o próprio canal orgânico, historicamente um dos motores de aquisição mais eficientes, está sendo canibalizado por uma nova tecnologia.

A maior ameaça, no entanto, vai além da simples perda de tráfego.

O verdadeiro risco estratégico é a perda de dados primários (first-party data) e, consequentemente, a capacidade de nutrir o usuário ao longo de sua jornada.

O tráfego orgânico sempre foi a principal porta de entrada para novos usuários no topo do funil. Essas visitas geram dados comportamentais valiosos, permitem a captura de leads através de newsletters e outros materiais, e habilitam estratégias de retargeting. O fenômeno do tráfego zero-clique interrompe esse fluxo vital na sua origem.

O usuário consome a informação e desaparece, sem nunca ter entrado no ecossistema digital da marca. Como resultado, as empresas perdem a visibilidade sobre quem são esses consumidores, quais são suas dores e intenções, e como podem se comunicar com eles no futuro.

Isso enfraquece diretamente a capacidade de personalização, as estratégias de CRM e a construção de audiências próprias, tornando as marcas mais dependentes de mídia paga para reengajamento.

A Evolução do SEO: De Palavras-Chave a Entidades, de Ranking a Citação

Como disse Rafael Ennes no MDS 2025, o SEO não morreu, seus objetivos foram fundamentalmente redefinidos. Nesse novo cenário, os fundamentos de SEO técnico, autoridade de domínio e conteúdo de alta qualidade não são mais o fim, mas sim o pré-requisito para que o conteúdo de uma marca seja sequer considerado pela IA. 

Estudos mostram que uma página com bom ranqueamento no Google tem uma probabilidade significativamente maior de ser usada como fonte em respostas de LLMs. A otimização, portanto, evolui de uma corrida por posição em uma lista para uma sofisticada estratégia de influência sobre um novo tipo de "público": os próprios modelos de IA.

Essa evolução deu origem a novas disciplinas que complementam o SEO tradicional:

SEO (Search Engine Optimization)

Continua sendo a base de tudo.

Garante que o conteúdo seja rastreável, indexável e tenha autoridade suficiente para ser considerado uma fonte confiável.

É o que torna o conteúdo "elegível" para a IA.

AEO (Answer Engine Optimization)

É a tática de otimizar o conteúdo para responder perguntas de forma direta, clara e estruturada.

O objetivo é ser a "resposta definitiva" que a IA escolhe para apresentar em formatos como AI Overviews e featured snippets.

GEO (Generative Engine Optimization)

Representa uma estratégia mais ampla e de longo prazo.

O foco do GEO é garantir que o conteúdo não apenas responda a perguntas, mas que também se torne uma fonte confiável para treinar e alimentar os LLMs, influenciando positivamente como a IA "pensa" e "fala" sobre sua marca, seus produtos e seu mercado.

É exatamente para navegar nesta nova complexidade que agentes de IA como o SEO Agent da DP6 foram desenvolvidos.

Ferramentas como essa transcendem a auditoria técnica tradicional.

Em vez de entregar relatórios fragmentados, o SEO Agent transforma o diagnóstico em um plano de ação estratégico, analisando a estrutura do conteúdo, a autoridade do domínio e as lacunas em relação aos concorrentes, com o objetivo de posicionar a marca como uma fonte primária e confiável para os mecanismos de busca e, consequentemente, para as IAs que deles se alimentam.

Para cristalizar essa mudança de paradigma para as equipes de conteúdo, a tabela abaixo compara os dois mundos:

Manual de Sobrevivência para Times de Conteúdo: Otimizando para Agentes de IA

Para prosperar na era da citação, a produção de conteúdo deve adotar uma mentalidade "AI-first". Isso cria um paradoxo interessante: para otimizar para a máquina, é preciso criar conteúdo mais autêntico, profundo e valioso para o humano.

A IA, em sua busca por respostas confiáveis, prioriza fontes que demonstram expertise, experiência e autoridade reais. Otimizar para IA (AIO - AI Optimization) é, portanto, um exercício de excelência em conteúdo.

Guia Prático de Otimização (AIO)

1. Estrutura e Clareza Semântica: Tornando o Conteúdo Compreensível Para a IA

A IA precisa "entender" seu conteúdo, e isso só é possível se ele for impecavelmente organizado.

  • Conteúdo Atômico: Abandone a ideia de longos blocos de texto monolíticos. Quebre seu conteúdo em "átomos" de informação: parágrafos curtos, concisos e autossuficientes que possam ser facilmente extraídos e recombinados pela IA. Utilize uma hierarquia lógica de títulos (H1, H2, H3) para sinalizar claramente a estrutura do pensamento.
  • Formatos Amigáveis à IA: Priorize formatos que a IA adora "ler" e "reutilizar". Listas com marcadores, tabelas comparativas e seções de Perguntas e Respostas (Q&A) que respondem diretamente a uma dúvida são formatos ideais. A IA pode "levantar" esses blocos e inseri-los diretamente em sua resposta, com a sua marca como fonte.
  • Dados Estruturados (Schema.org): Implementar marcação Schema é como fornecer um "manual de instruções" do seu conteúdo para os mecanismos de busca e IAs. Use FAQPage, Product, HowTo e outros tipos de schema para "traduzir" explicitamente o que é cada elemento da sua página, definindo entidades e seus relacionamentos.
  • O que Evitar: As IAs penalizam a complexidade e a obscuridade. Evite longas "paredes de texto", informações cruciais escondidas em menus expansíveis ou abas, e conteúdo essencial preso dentro de imagens sem texto alternativo (alt text) ou em arquivos PDF, que carecem da estrutura semântica do HTML.

2. Autoridade e Confiança: E-E-A-T para Máquinas

O framework E-E-A-T (Experience, Expertise, Authoritativeness, Trustworthiness) do Google é mais relevante do que nunca, pois as IAs são programadas para valorizar exatamente esses sinais.

  • Fontes e Originalidade: Torne-se uma fonte primária. Publique dados originais, pesquisas de mercado, estudos e análises exclusivas. LLMs são treinados para identificar e priorizar fontes originais em detrimento de conteúdo agregado. Ao mesmo tempo, citar fontes externas de alta autoridade reforça a sua própria credibilidade.
  • Autoria Humana: A era do conteúdo anônimo acabou. Conecte cada peça de conteúdo a um autor real, com uma biografia que demonstre sua experiência e credenciais (por exemplo, link para o perfil do LinkedIn). Isso envia sinais claros de Experience e Expertise para a IA.
  • Presença Multiplataforma: A autoridade de uma marca não é construída apenas em seu próprio site. As IAs avaliam a reputação de uma entidade em toda a web. Menções em fontes de alta confiança como Wikipedia, artigos de notícias, fóruns de especialistas (como Reddit ou Quora em nichos específicos) e publicações de mercado são sinais poderosos de autoridade.

Nesse contexto, os agentes de IA da DP6 atuam como aceleradores estratégicos. O SEO Agent automatiza a auditoria desses novos fatores de otimização, identificando rapidamente páginas com estrutura fraca, falta de dados estruturados ou lacunas de conteúdo que as tornam "ilegíveis" para a IA.

Para o e-commerce, o Feed Optimizer aplica esses mesmos princípios em escala, utilizando IA generativa para enriquecer títulos e descrições de produtos, tornando-os mais detalhados, contextuais e, portanto, mais relevantes não apenas para o Google Shopping, mas também para os agentes de IA que fazem recomendações de compra. 

Mensurando o Invisível: Novas Métricas de Performance na Era da IA

Se cliques e sessões, os pilares da mensuração de conteúdo, estão em declínio, como as equipes podem provar seu valor e justificar investimentos?

A resposta está em uma mudança de mentalidade: o foco da mensuração deve migrar do tráfego direto para a influência indireta e a percepção da marca dentro dos próprios modelos de IA.

A Métrica Estratégica: Share of Model™ (SoM)

A métrica mais importante nesta nova era é o Share of Model™ (SoM). Desenvolvido pela Jellyfish, uma empresa do The Brandtech Group (do qual a DP6 também faz parte), o SoM é o novo "Share of Voice" para a era da IA.

Ele mede a percepção, a proeminência e o sentimento associado a uma marca dentro das respostas geradas pelos principais LLMs, como ChatGPT, Gemini e outros.

A plataforma funciona realizando milhares de perguntas em escala para os diversos modelos de IA ("qual a melhor marca de tênis de corrida?", "o que você pensa sobre a marca X?") e, em seguida, analisa as respostas para quantificar:

  • Taxa de Menção: A frequência com que sua marca é mencionada em respostas relevantes, em comparação com os concorrentes.
  • Sentimento e Atributos: Como a IA descreve sua marca. Ela é percebida como "inovadora", "confiável", "acessível" ou "cara"?
  • Análise de Lacunas: Identifica onde a mensagem estratégica da sua marca não está sendo refletida ou compreendida pelas IAs, revelando oportunidades de otimização de conteúdo.

A importância do SoM é existencial. Nos LLMs, não existe "página dois". Se uma marca não é mencionada, para todos os efeitos, ela é invisível para aquele usuário.

O SoM torna-se, assim, a principal métrica para a gestão de marca e reputação neste canal emergente.

Métricas Táticas: Rastreando o Impacto no GA

Embora o tráfego direto diminua, o tráfego que ainda chega através de citações de IA é, potencialmente, altamente qualificado. É crucial isolá-lo e analisá-lo.

  • Identificando Tráfego de IA: É possível e necessário configurar o Google Analytics para identificar o tráfego de referência vindo de plataformas de IA. Isso pode ser feito criando filtros ou segmentos personalizados com base na dimensão "Origem da sessão", utilizando expressões regulares para agrupar fontes como openai.com, chat.openai.com, perplexity.ai, gemini.google.com, entre outras.
  • Análise Comportamental: Uma vez que esse segmento de tráfego é isolado, é possível analisar seu comportamento. Esses visitantes passam mais tempo no site? Eles têm uma taxa de conversão mais alta? Quais são as páginas de destino mais comuns para esse público? Essas análises ajudam a identificar quais peças de conteúdo estão sendo mais eficazmente citadas e estão conseguindo gerar uma ação subsequente.

Com base nisso, dashboards de performance de conteúdo deve ser estruturado em torno de três pilares:

  1. KPIs de Influência: Share of Model (SoM), Taxa de Citação em AI Overviews, Análise de Sentimento (via SoM).
  2. KPIs de Engajamento Pós-IA: Sessões de Referência de IA (GA), Taxa de Conversão de Referência de IA, Páginas de Destino mais citadas por IAs.
  3. KPIs de Base (SEO): Posição Média para clusters de tópicos, Saúde Técnica do Site, Autoridade de Domínio.

Conclusão

A ascensão dos agentes de IA não é apenas mais uma atualização de algoritmo, é uma reconfiguração fundamental de todo o ecossistema de descoberta digital. A adaptação não é uma opção, mas uma necessidade para a sobrevivência e relevância das marcas no ambiente online.

As equipes de conteúdo estão na linha de frente dessa transformação, e sua missão evoluiu de criar conteúdo para ser encontrado para criar conteúdo para ser compreendido, citado e recomendado por inteligências artificiais.

Paradoxalmente, a melhor maneira de otimizar para a máquina é se concentrar em criar conteúdo de altíssima qualidade, com expertise genuína e autoridade inquestionável, para os humanos.

A IA é, em sua essência, um espelho da web, conteúdo medíocre ou superficial levará a uma percepção medíocre da marca pelos algoritmos.

Finalmente, a busca por performance neste novo cenário está intrinsecamente ligada à responsabilidade, um tema central discutido no MDS 2025. Como destacado por Fabiana Baraldi, Managing Director da Jellyfish, os modelos de IA são treinados com dados humanos e, portanto, herdam e podem perpetuar nossos vieses.

Otimizar para IA também significa auditar as respostas geradas, lutar por uma representação justa e inclusiva da sua marca e da sociedade, e utilizar a tecnologia para quebrar vieses, não para reforçá-los. A busca incansável por performance não pode, e não deve, vir à custa da ética. A jornada à frente exige uma abordagem integrada que una dados, tecnologia e, acima de tudo, um compromisso com a responsabilidade.

Se sua marca quer conquistar relevância no novo ecossistema digital dominado por IA generativa, tráfego zero-clique e mecanismos de resposta automatizada, a hora de agir é agora. Conte com a DP6 para transformar sua estratégia de conteúdo e SEO em um ativo inteligente, escalável e conectado à performance real do negócio.

Fale com nossos especialistas e descubra como o SEO Agent e nossas soluções baseadas em IA podem posicionar sua marca como autoridade nas respostas dos grandes modelos de linguagem e não apenas nas páginas de resultados.

Fontes:

Google AI Overviews: O Impacto no Tráfego 

How AI Overviews Are Cutting Web Visits 

The Impact of Google's AI Overviews on Organic Traffic and How to Respond

Dossiê AI Overviews: pesquisas e dados sobre o impacto

Google AI Overviews: Uma revolução na Busca e no SEO 

O impacto da IA no tráfego orgânico: o que muda e como se adaptar 

The Impact of Google's AI Overviews on Website Traffic 

More Data Finds AI Overviews Leading to Reduced Clicks

Website Clicks From AI Overviews at an All Time Low

What 2025 SEO Data Tells Us About Google's Search Shift

What is AI Optimization (AIO) and Why Is It Important?

Your Guide to AI Content Optimization: How to Optimize Content for Generative AI 

Além do Google: Como otimizar conteúdo para LLMs com HubSpot 

SEO na era da IA: como escalar sua presença orgânica com inteligência artificial

Optimizing Your Content for Inclusion in AI Search Answers 

Como Otimizar seu Site para LLMs (Large Language Models): Guia Completo para Aparecer nas Respostas da IA 

Best Practices for AIO Success: Direct from Our Search & Content Leaders

AI Overviews: What They Are and How to Optimize for Them

Práticas recomendadas do LLM Optimizer 

Meet the Model: How to Market to LLMs (and Sell to Humans) 

AI is influencing consumer behavior, so the way LLMs 'think' about your brand is more important than ever 

Jellyfish Launches Share of Model™ Platform, First-to-Market Solution to Track How LLMs Perceive Brands, Products & Services

How Jellyfish's AI Tool is Transforming Brand Perception Analysis

O guia completo para filtrar o tráfego de IA no Google Analytics 4

Como rastrear tráfego LLM no Google Analytics 4? Guia Completo